quinta-feira, 29 de maio de 2008

A FpD E A FEDERAÇÃO PELA MUDANÇA POLÍTICA

“A FpD é um partido que não pode deixar de ser levado em consideração, é um partido de oposição com política própria, um partido que representa um pensamento político alternativo para o país.”

(artigo de Filomeno Vieira Lopes, Luis do Nascimento e Nelson Pestana (Bonavena), publicado no AGORA, nº. 580, de 24 de Maio de 2008)

As eleições legislativas de 2008 estão à porta. E isto é uma coisa boa! Foram dezasseis anos à espera. Os angolanos foram impedidos de votar em 1996, em 2000 e em 2004 (mesmo depois da paz). Não devem pois deixar de participar activamente nestas eleições de 2008. Cabe a cada um dos cidadãos (e a todos) exercer o seu direito soberano de livremente de escolher os seus representantes na Assembleia Nacional, por um período de quatro anos (2008-2012).

O aproximar da data prevista para a realização das eleições começa a trazer movimentação nos partidos políticos. E, se algumas movimentações se têm pautado pela preocupação de participar da melhor forma no pleito eleitoral, trazendo novas propostas, não tem faltado a baixa política de affairistas que destratam os demais partidos, de fundamentalistas que se oferecem para a anti-campanha, de pedintes que falam alto para sentir a lata tilintar, de intriguistas e politiqueiros que não medem os meios para atingirem os seus fins e de tutti quanti de poluição da política nacional.

Os comentaristas, geralmente, são calculistas e alguns vêem na prática da crítica uma oportunidade de conversão dos ganhos simbólicos em dividendos fiduciários. Mas, também há os que preocupados com a sua imagem e seu bom-nome, procuram ser objectivos. Estes têm dito que a maioria absoluta do partido da situação vai cair e nenhum outro partido vai conseguir obtê-la. Os próprios da situação não acreditam mais nessa possibilidade e falam apenas numa “vitória confortável”. Muitos comentadores, opinion makers e outros cidadãos se pronunciaram, entre os partidos nacionais, sobre a Frente para a Democracia (FpD). As declarações deles abordam, cada um segundo o seu enfoque, aspectos particulares deste partido, o seu dinamismo, a sua acutilância, a sua capacidade prepositiva o seu posicionamento em relação ao social. Numa coisa todos concordam: a FpD é um partido que não pode deixar de ser levado em consideração, é um partido de oposição com política própria, um partido que representa um pensamento político alternativo para o país.

Esses comentaristas ao falarem da FpD, não deixam de a colocar perante o desafio das próximas eleições. Pelo que importa esclarecer a posição da Frente para a Democracia (FpD) no contexto político nacional actual.

Para a FpD, o sentido das eleições legislativas de 2008, não é o do poder. A questão que está em jogo não é uma questão de poder mas sim de mudança política. A FpD quer a mudança, sempre se apresentou como um “partido de confiança”, que quer ser “força de mudança”, ao serviço da sociedade”. A FpD não se apresenta como uma alternativa de poder mas sim como uma alternativa de política. O objectivo da FpD não é o de afastar, pura e simplesmente, do poder o partido da situação e de substitui-lo por um outro. O nosso objectivo não é o de substituir um partido-Estado por outro. A FpD não é um partido de clientelas. É um partido de quadros e militantes que interagem com os cidadãos sem lhes perguntar a sua cor política. Os partidos são apenas um dos instrumentos de realização da política nacional e não são a própria política. E muito menos de realização da Nação. A Nação realiza-se pela sua pluralidade através da realização da cidadania e os partidos são apenas um dos lugares e modos dessa realização.

A FpD quer mudar estruturalmente o país, começando por atacar, nos seus fundamentos, a actual estrutura de oportunidades extremamente desigual, através de um forte investimento na educação e no emprego. Complementados com consideráveis investimentos na saúde, água e saneamento e no fomento da habitação que são formas de reforço das capacidades (de empoderamento, como se diz hoje) da família que é um dos locus mais importantes da realização da cidadania. O combate à desigualdade social (que entre nós se confunde com a discussão do sistema clientelar e dos seus desenvolvimentos, do tipo: “agora chegou a nossa vez”) a FpD fa-lo-á através da alteração da estrutura de oportunidades do país, fazendo com que todo o cidadão em idade activa participe da produção da riqueza e, por este meio, participe igualmente da sua distribuição. Enquanto os demais estarão, uns, na escola a serem preparados para sustentar a passagem sustentada da economia de enclave para a economia produtiva desenvolvida. Outros, através do sistema de solidariedade nacional cuidarão dos netos, darão lições as mais novos, farão desporto, fruirão de várias formas de lazer e contribuirão para o desenvolvimento nacional com a transmissão da sua sabedoria e experiência. E, as formas modernas de economia solidária passarão também a ter campo de intervenção.

A FpD pretende um espaço de realização da sua política e para isso precisa de estar representada na Assembleia Nacional com um grupo parlamentar próprio que tenha a responsabilidade de implementar o seu projecto de mudança e que responda (na virtude ou no defeito) perante os seus eleitores. A FpD associa a política à responsabilidade dos representantes (os deputados, governantes e demais pessoal político) perante os representados e não aceita a perversão do princípio da representação, em que o representante passa a submeter o representado às suas vontades e diatribes.

Por isto, a FpD não entra em coligações com objecto, puro e simples, de alternância de poder. A FpD também não aceita – por inerência do projecto alternativo que comporta - a bipolarização da política entre os parceiros do GURN. A FpD tem promovido, mesmo sem que houvesse eleições, uma ampla federação de pessoas, vontades e organizações por uma mudança de política, pela mudança de cultura política, de prática de poder, de moralização da relação com os governados. Esta ampla federação está em curso desde há muitos anos, com a sociedade civil, com os independentes, notáveis, movimentos reivindicativos, sindicatos, associações e todos os cidadãos que se reconheçam na identidade-FpD e nos postulados gerais do seu propósito de “transformar Angola numa potência de dimensão atlântica para enriquecer os angolanos”, através da realização da “Liberdade, Modernidade e da Cidadania”.

Alguns - incluindo aqueles que colaboraram na trama de criar obstáculos à diferença e agora nos acenam com o lenço da pretensa salvação - pensavam que a FpD, devido as dificuldades de um processo eleitoral disputado em condições de pouca liberdade e equidade, seria coagida a abandonar o seu próprio projecto. Pensavam secretamente que essas dificuldades seriam motivo para a desistência e para justificar alianças oportunistas. Esqueceram-se que a FpD é um partido de princípios, um partido em quem as pessoas confiam, mesmo quando não estão de acordo com as suas posições. Não queremos perder a confiança e o respeito das pessoas (incluindo dos nossos adversários). Os militantes, simpatizantes e amigos da FpD sabem que em defesa das nossas causas e da nossa ética política, nós preferimos sermos derrotados nas nossas convicções do que ser eleitos na base de uma ambiguidade.

Sempre advogamos as plataformas de concertação, de diálogo mas também sempre primamos pela nossa autonomia de pensamento e de acção. Continuamos a defender o diálogo mas sem cooptação, nem arrogância. A alternância não se faz apenas com novas pessoas mas sobretudo com novas ideias, uma nova forma de olhar as questões nacionais (por exemplo, a pobreza), de as anunciar e de as resolver. Há partidos a advogar, pelo menos no discurso, a mudança mas é preciso que apresentem novas ideias numa visão de conjunto sobre o Estado, a economia e a sociedade em Angola virada para a resolução em concreto dos problemas dos cidadãos. A FpD põe o acento tónico nas novas ideias e nas novas práticas. A nossa aposta não é na alternância do poder mas na alternância da política. E, esta alternância de política é um processo e não apenas a passagem repentina a um “novo” poder. Um processo que não se faz com o aniquilamento do outro mas com a sua aceitação e integração na nova política.

A FpD quer uma mudança não apenas nos conteúdos da política nacional mas também nos métodos, nos modos de produção do político. Por isto, defende a ampliação do espaço democrático e a mudança do sistema de governação, sobretudo, a alteração da relação entre a Assembleia Nacional e o Governo. A Assembleia Nacional tem que ser valorizada como centro do poder de Estado e como câmara deliberativa que traduz a vontade geral em Lei. A Assembleia Nacional deve ser um agente activo de controlo do executivo e de interacção com a sociedade e os deputados da FpD vão estreitar relações com os movimentos sociais e reivindicativos de todo o país para que a política seja colocada ao serviço dos cidadãos.

Por isto, a FpD pretende, nas eleições legislativas de 2008, constituir um grupo parlamentar forte, como primeiro passo para impulsionar a mudança estrutural e progressiva do país. Por isto, a FpD apresenta-se como um partido que é património colectivo de todos os democratas que defendem a mudança e que pretendem protagonizar uma terceira política, ética e de valores que evite a bipolarização entre os parceiros do GURN, estimulando a parceria com as organizações da sociedade civil,colocando-se em lugar privilegiado para impulsionar, sem complexos, um processo de federação de todas as correntes democráticas em torno de um projecto de democracia participativa e solidária

A FpD considera como fundamentais a unidade do movimento democrático e a luta pela consolidação do processo de democratização, pois a restauração autoritária que se opõe quotidianamente ao processo de democratização do país, vai fazer do próximo pleito eleitorar - se os cidadãos o permitirem - o instrumento de liquidação de todas as reivindicações de liberdade, prosperidade e progresso social, colocando o país sob chantagem, em relação a continuação do poder absoluto do Príncipe.

Angola e, sobretudo, os angolanos precisam de um voto claro na Mudança, num partido de confiança que está ao serviço da sociedade.

Filomeno Vieira Lopes (Presidente da FpD)
Luís de Nascimento (Secretário-geral da FpD)
Nelson Pestana “Bonavena” (Coordenador do Conselho Nacional de Estudos e Reflexão da FpD)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

AGRESSÃO A MILITANTES DA FpD EM CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Conferência de Imprensa do Secretário Geral da FpD
Sede Nacional – 22 de Maio de 2008

Exmos. senhores jornalistas,

A Frente para a Democracia, FpD, preferia chamar a imprensa, há poucos meses da realização das eleições legislativas, para falar da proposta que vai apresentar ao país, do que quer, do que quer defender, do que pretende alcançar, de como pretende alcançar, enfim, a FpD, preferia estar neste momento a debater a sua visão de conjunto sobre o Estado, a economia e a sociedade em Angola virada para a resolução em concreto dos problemas dos cidadãos.

Com efeito era isto que devia interessar a toda gente e é isto que nós temos procurado fazer porque a FpD defende a ampliação do espaço democrático e a mudança do sistema de governação, sobretudo, a da relação entre a Assembleia Nacional e o Governo. Para a FpD, a Assembleia Nacional tem que ser valorizada como centro do poder de Estado e como câmara deliberativa que traduza a vontade geral em Lei. A Assembleia Nacional, para a FpD, deve ser um agente activo de controlo do Governo e os seus deputados devem estreitar relações com os movimentos sociais e reivindicativos de todo o país para que a política seja colocada ao serviço dos cidadãos.

Por isso, a FpD pretende, nas eleições de 2008, constituir um grupo parlamentar forte, como primeiro passo para impulsionar a mudança estrutural e progresiva do país. Para conseguir esta pretensão, a FpD apresenta-se como um partido que é património colectivo de todos os democratas que defendem a mudança e que pretendem protagonizar uma terceira política, ética e de valores que evite a bipolarização entre os parceiros do GURN, estimulando a parceria com as organizações da sociedade civil, colocando-se em lugar privilegiado para impulsionar, sem complexos, um processo de federação de todas as correntes democráticas em torno de um projecto de democracia participativa e solidária.

Lamentavelmente não nos podemos ainda dar a este luxo de fazer política, pois, o poder vem criminalizando a democracia, prendendo arbitrariamente, em flagrante violação à Lei de prisão preventiva, agredindo, ameaçando, intimidando, espalhando boatos, com o único intuito de distrair os partidos políticos da oposição dos seus verdadeiros objectivos, serem alternativas do poder ou alternativa de política, como é a FpD. O que vem acontecendo um pouco por toda a parte e piorando à medida que nos afastamos de Luanda, é que enquanto o partido da situação e o governo fazem política para o inglês ver, fazem também com que as activiadades dos partidos políticos sejam um assunto de polícia, da Polícia Nacional mas sobretudo do SINFO.

Exmos. senhores jornalistas,

É neste contexto que aproveitamos a oportunidade para, por vosso intermédio, informar a comunidade nacional e internacional que as 7h00 da manhã do dia 17 de Maio, no Bairro Kipapa, em Ndalatando, Kwanza-Norte, foi detido o membro da FpD, ANTÓNIO ANDRÉ LOURENÇO, quando no exercício dos seus direitos cívico-políticos, sensibilizava os cidadãos a subscrever uma lista de eleitores que apoiem a candidatura da FpD às próximas eleições legislativas no círculo provincial do Kwanza-Norte.

Só depois de 11 horas de detenção, as 18 horas do mesmo dia 17 de Maio o referido cidadão, membro da FpD, foi posto em liberdade, tendo deixado “presa” na Direcção Provincial de Investigação criminal a documentação interna do Partido que tinha consigo, designadamente a lista de eleitores subscritores que se tinham comprometido a apoiar a candidatura da FpD.

Em nosso entender, estas 11 horas de privação arbitrária da liberdade a que foi submetido o nosso companheiro ANTÓNIO ANDRÉ LOURENÇO apenas não se converteram em dias, semanas ou mesmo meses ou em julgamento sumário, pelo envolvimento da direcção da FpD e, em especial, do seu Presidente, o Senhor Dr. Filomeno Vieira Lopes, que as 14h30m do dia 17 de Maio falou com S. Ex.a, o Senhor Governador da Província do Kwanza-Norte, que felizmente estava na Provincia, e as 16h30m informou ao nosso companheiro Presidente ter enviado um oficial da DPIC para inteirar-se do caso e informar-lhe.

Até aquela altura o companheiro ANTÓNIO LOURENÇO jazia na prisão sem que a polícia tivesse elaborado o respectivo auto ou o apresentasse ao magistrado do Ministerio Público da Esquadra de detenção em que se encontrava detido.

Foi, pois, após diligências ordenadas pelo Governador Provincial do Kwanza-Norte, que o nosso companheiro veio a ser solto no mesmo dia.

O nosso companheiro Filomeno Vieira Lopes contactou o 2.º Comadante Municipal do Ndalatando, na manhã do dia 18 de Maio e obteve deste a confirmação da apreensão dos documentos e a informação de que a detenção do nosso companheiro se deveu ao facto de ter sido acusado de “estar a fazer fotócopias de cartões” o que, no entender do referido policial, “constitui crime que deve ser investigado”.

Conhecemos minimamente as infracções eleitorais relativas ao processo eleitoral, pelo que afirmamos sem receio de errar que este crime não existe, pois ele, como crime, não está tipificado em nenhuma lei do ornamento jurídico da República e Angola. Nullum crimen sine lege é a formulação latina do pricípio da legalidade na incriminação referida no Código Penal da República de Angola, segundo o qual nenhum facto, ou consista em acção ou em omissão, pode julgar-se criminoso, senão em virtude de Lei anterior que declare puniveis o acto ou a omissão.

Ora, o que acontece é que a nossa Lei Eleitoral, que há menos de 4 meses está sendo alterado, e não apenas nas normas inconstitucionais, pelo partido da situação, como aconteceu no Zimbabwe pouco antes das eleições, no seu art.º 62.º n.º 2 diz expressamente que “Os Partidos Políticos ou Coligações de Partidos devem obrigatoraimente concorrer em todos os círculos eleitorais, devendo as listas serem suportadas para o círculo nacional por 5000 à 5500 eleitores e para os círculos provinciais por 500 à 550 eleitores”. Ou seja, apesar de legalmente exigir-se que os partidos políticos apresentem listas com nomes e assinaturas de eleitores para apoiarem a sua candidatura, nega-se aos mesmos partidos que obtenham os comprovativos que atestem que os cidadãos subscritores sejam eleitores, pois, quando os seus membros procedem de acordo com o estabelecido na Lei, esse procedimento é considerado ilegal e criminoso ao ponto de levar à detenção desses membros.

Há muita predisposição, em Angola, para se ordenar a detenção de membros de partidos políticos da oposição por mera propotência de quem ordena. Ora, a liberdade das pessoas é uma coisa com a qual se não deve levianamente, mexer.

Em face disto, a FpD repudia veementemente esta atitude dos órgãos de Segurança que visa pressionar os cidadãos que assinaram pela candidatura da FpD a forjar “provas” de que tais assinaturas sejam dadas sem o seu consentimento, criando a instabilidade nos cidadãos que estão a participar no processo democrático.

Para bem da nossa democracia, a FpD vai levar este processo até às últimas consequências, estando já a empreender um conjunto de acções para que o processo eleitoral não tenha, pelo menos tão ostensivamente como agora, a interferência, das forças de segurança jogando um papel político-partidário.

Esta denúncia e as acções que estamos a empreender visam tão-só provocar uma tomada de posição de todas as autoridades com responsabilidade no processo eleitoral (Comissão Nacional Eleitoral, Tribunal Supremo e Assembleia Nacional), no sentido de esclarecer os procedimentos que os partidos políticos devem adoptar no sentido de que o exercício dos seus direitos políticos não sejam percebidos como actos criminosos pelas forças de segurança e pela opinão pública a fim de de se estimular a participação cidadã no processo eleitoral e evitar, que situações da natureza da que tratamos aquí, ocorram desnecessariamente.

Exmos. senhores jornalistas,
Muito obrigado pela vossa presença.
(segue-se perguntas e respostas)

O Secretário-geral
Luís do Nascimento

OS JORNALISTAS GOSTAM MAIS DE OBAMA

Michael Schudson, professor de Comunicação na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, diz que os media favorecem Obama na sua cobertura da campanha eleitoral. Isso acontece porque ele é o recém-chegado inesperado, é jovem e invulgar.
Já Hillary Clinton é "demasiado familiar". Autor de vários livros sobre história e sociologia dos media americanos, não vê nada de errado em dizer que "política é entretenimento": já na América do século XIX o eraO professor norte-americano Michael Schudson afirma que o que os media estão a avaliar são as capacidades dos candidatos em campanha, o que pouco diz sobre o que serão como presidentes. Nos tempos que correm considera que um candidato à Presidência americana "seria louco" se não fosse a programas de humor como o de Conan O"Brien ou de John Stewart. Schudson veio esta semana a Portugal dar uma conferência sobre Cidadania e Media na Fundação Luso-Americana e participar em seminários do mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade Católica de Lisboa. Hillary Clinton tem-se queixado que os media gostam mais de Barack Obama do que dela e que isso a tem prejudicado...Obama tem alguma vantagem na cobertura mediática. A verdade é que ninguém o conhecia nem sabia nada sobre ele; Hillary é familiar, talvez demasiado familiar, há cobertura noticiosa sobre ela há duas décadas. Ele permanece um desconhecido, tem uma carreira curta, é uma folha em branco e é o recém-chegado. Junta ainda o facto de ser novo, jovem e invulgar. Os jornalistas procuram novidade e esse factor é muito importante. Se eliminarmos estes factores, em termos de ideias não se distinguem assim com tanta facilidade. Os media têm-no favorecido apenas por ser uma novidade ou porque é o seu candidato preferido?O governador da Pensilvânia, Ed Rendell [apoiante de Clinton], atacou os media dizendo que eles não gostam de Hillary. A mera novidade de Obama é um factor, a isso junta-se uma agilidade em campanha que ninguém esperava. Os jornalistas que seguem os candidatos só podem julgar as suas capacidades enquanto candidatos em campanha, não estão a avaliar nem conhecem as suas capacidades como presidentes. Obama, como recém-chegado, é notável. Mas essa é a ponta do icebergue presidencial. O facto de a televisão ter grande preponderância na campanha e de Obama ser telegénico tem peso?Ele emana autenticidade e parece ser uma pessoa confortável consigo mesmo no seu papel e, convenhamos, ele não devia estar tão confortável [risos]: é novo e está pouco habituado aos holofotes dos media nacionais. Não terá atrás de si uma forte equipa de peritos em media que o treinam?Ele é descontraído, mas não de mais. Se fosse possível aprender a fingir assim, todos os políticos teriam um livro de regras.No seu livro O Poder das Notícias diz que Reagan foi retratado pelos media que o seguiram em campanha como "um grande comunicador" e "um tipo porreiro" e que isso teve alguma importância na sua vitória. O mesmo pode acontecer com Obama?Os jornalistas americanos, especialmente dos media nacionais, estão mais à esquerda do que o resto da população, e mesmo assim ficaram impressionados com Reagan e gostaram de cobrir a sua campanha. É um bom exemplo de como a cultura profissional dos jornalistas se sobrepõe às suas ideias políticas. Obama está mais perto das suas inclinações políticas. Diz que os críticos olham para o poder dos media como sendo como o do Super-Homem quando não passa de Clark Kent? Esse suposto favoritismo dos media não dá mais votos a Obama?O favoritismo na cobertura acaba por ser um pequeno factor. Porque é que o governador Rendell diz que os media estão contra Hillary? Porque ela não está a ganhar e estão à procura de alguém para atacar. Se os media têm um papel moderado, o que é que vai decidir a nomeação de dois candidatos que diz terem pouco que os distinga em termos de ideias?Muito tem a ver com timings acidentais, o que acontece em que momento. Penso que as lágrimas de Hillary foram um acidente, mas aconteceram no momento certo, assim como o discurso de Obama sobre a raça em resposta aos ataques ao seu pastor, o reverendo Wright. Eu, se fosse conselheiro dele, tinha-lhe dito para se distanciar totalmente do homem e condená-lo. Não foi o que ele fez: transcendeu o momento e aproveitou a oportunidade para reflectir sobre a forma como a raça divide a América.Na campanha, o lado emocional pode ser mais importante do que os argumentos?Penso que sim. Onde divirjo dos críticos é que eu não penso que isso seja mau, faz parte de ser líder. Pode fazer-se ao gosto popular ou trivializando ou pode-se fazer de uma maneira que reconhece que parte da tarefa política tem a ver com a mobilização das pessoas.As lágrimas de Hilary vieram mostrar o seu lado emocional?Não sei como os candidatos aguentam este processo horrível, e, se ela teve aquela reacção, que pareceu genuína, isso é ser humano e as pessoas responderam positivamente a isso.Na América, mais do que na Europa, a vida privada é política. Porquê?Tony Blair manifestou a sua religiosidade quando deixou de ser primeiro-ministro, durante o cargo escondeu-a; nos Estados Unidos a religiosidade é exibida. Não sei se vem de uma herança puritana, mas existe um grau de religiosidade que é invulgar em comparação com a Europa. E isso liga-se com ideia de valores de família que têm que ser exibidos?Um dos preconceitos que estão longe de ser ultrapassados nos Estados Unidos é o da orientação sexual e instala-se uma suspeição quando a pessoa não é casada. O candidato a Presidente tem que ser uma pessoa normal, o que quer dizer ser heterossexual. Também é considerado não-normal não ter crianças, porque supostamente representam um compromisso com o futuro. Até se pode ser horrível com os filhos, mas o facto de que os tem junto a si sugere que percebe mais de assuntos como saúde e educação. Os candidatos têm simultaneamente que ser melhores do que nós e iguais a nós. O facto de não termos sistema parlamentar também é importante. O primeiro-ministro é, antes de mais, o líder de um partido, o Presidente é o símbolo da nação e só depois o líder do partido e isso traz diferenças.Tem-se falado do afastamento das pessoas em relação à vida política e do consequente aumento da abstenção. Estas eleições estão a voltar a interessar os americanos em política e os jovens em particular?Ficaria muito impressionado se a votação deste ano não fosse muito mais alta, para parâmetros americanos, do que em anos anteriores. Num ano em que as coisas correm bem votam 52 a 53 por cento dos eleitores, um número mais baixo do que em alguns países europeus. Nos jovens há níveis altos de abstenção. Obama, em particular, atraiu muitos jovens. E se ele não for nomeado? Um eleitor maduro democrata transferiria o seu voto de Obama para Hillary, mas será que o eleitor de 19 anos, que pensa que Obama é o salvador da América, agirá assim? Não sei.A informação jornalística sobre as eleições está longe de ser o principal veículo de campanha. Os candidatos aparecem em talk shows e em programas de humor. As campanhas estão muito ligadas ao entretenimento?Os americanos têm uma ideia muito romântica e falsa sobre o nosso passado, a imagem mais popular dos "bons velhos tempos das eleições" é de quando o Lincoln concorreu com o Douglas e debateram horas a fio. A grande distorção é que em eleições do século XIX isto foi muito raro, tiveram nove debates de três horas cada um, falavam para grandes audiências ao ar livre que muito provavelmente não os conseguiam ouvir e não eram candidatos à Presidência, mas ao Senado. Depois, eles atacavam-se pessoalmente e mentiam um sobre o outro. Ir a um debate não era muito diferente de assistir a um jogo de futebol nos dias de hoje. As pessoas aplaudiam o lado que já apoiavam. No século XIX, quando as eleições americanas se tornaram democráticas, já tinha muito a ver com entretenimento. Havia desfiles, churrascos, procissões, fanfarras - já era cultura popular. Desde então a política é entretenimento, é parte da cultura popular e hoje um candidato seria louco se não fosse a programas como o de Conan O"Brien, de John Stewart e por aí adiante.Há críticos dos media que vêem com maus olhos a cobertura noticiosa conhecida como "corrida de cavalos", que olha para vitórias e derrotas e pouco para as ideias defendidas...Não me faz grande impressão a cobertura "corrida de cavalos". Se as pessoas quiserem saber pormenores sobre os planos de saúde dos candidatos, podem ir aos seus sites ou ao Google. Além do mais, os planos de saúde que eles prometem não vão ser os que vão ser aprovados, vai haver compromissos com o Congresso, vão ter que mudar de acordo com o estado da economia. Acho boa ideia basear o voto no carácter do candidato. É um país grande e heterógeneo com um sistema político que é de uma complexidade louca, precisamos de atalhos para tomar decisões.Os media servem para ajudar a tomar decisões que não são necessariamente racionais?São baseadas em razão e emoção. Saber quem vai à frente é uma informação vital e a cobertura "corrida de cavalos" mantém as pessoas interessadas; as ideias dos candidatos não mudaram nos últimos oito meses, os resultados que obtiveram, sim. Na sua opinião, muita informação não faz das pessoas necessariamente melhores cidadãos. Porquê?Temos cada vez mais informação, mas o que nós sabemos é muito em segunda mão. Eu sei que o plano de saúde da Hillary é mais abrangente do que o de Obama porque li isso algures e vi-o repetido várias vezes, então penso que o plano da Clinton é melhor porque inclui mais pessoas. Mas será que é economicamente viável? Sei lá, não sou economista, sei é que há economistas do lado de Hillary que dizem que sim e outros do lado de Obama que dizem que não. Os media ajudam-me nisso, provavelmente o New York Times já publicou informação sobre isso. Mas nós só inferimos dos nossos conhecimentos, somos cidadãos em part time, os media são instrumentos a que podemos recorrer, mas não são eles que fazem de nós melhores cidadãos. Eu devia ter dito alguma coisa no aeroporto quando vi que havia pessoas a passar à frente. A cidadania é uma forma de respeito público, não é a mesma coisa que conhecimento e informação. Eu até já pus a questão de se saber se uma pessoa pode ser um bom cidadão e nunca votar. A resposta é sim, se eu agir e denunciar sempre que acontecer uma injustiça em minha casa, na minha escola, no meu bairro.
Catarina Gomes,
Fonte : Publico.pt

quinta-feira, 22 de maio de 2008

AGRESSÃO A MILITANTES DA FpD NO KATCHIUNGO (HUAMBO) POR ELEMENTOS DA JMPLA

NOTA DE IMPRENSA DA FpD, 22 DE MAIO


Depois das prisões no Kwanza-Norte. Três militantes da FpD no Huambo, sob direcção de Augusto João Eduardo, foram ontem (dia 21 de Maio) apedrejados por
um grupo de membros da JMPLA, quando, no Cathiungo faziam trabalho de
sensibilização política
.
Os militantes da FpD foram forçados a abandonar os seus trabalhos face a violência manifesta pela juventude do partido da situação. O MPLA tem insistentemente referido que a intolerância política dos seus membros é devido a recalcamentos da guerra, uma espécie de desforra aos militantes da Unita que se confrontaram com as forças do Governo. Apesar de tais argumentos serem inadmissíveis numa época de reconciliação nacional, estes caem por terra quando a mesma violência se passa com militantes da FpD, uma força política que sempre se bateu pela Paz em Angola, clamando sempre por uma plataforma política capaz de criar estabilidade e unidade nacional.
A FpD protesta veementemente contra mais esta violação e conclama a direcção política do MPLA para educar os seus militantes num clima de não violência, que as eleições não podem representar para o povo angolano um jogo de tudo ou nada, mas um momento para alicerçar a democracia, a reconciliação nacional e o estado de direito.
A FpD – Frente para a Democracia – reafirma a sua proposta da necessidade dum acordo pré-eleitoral de todas as forças políticas para reforço do código de conduta eleitoral afim de não só prevenirmos o conflito, mas para sabermos geri-lo sempre que o mesmo ocorra.
A direcção da FpD vai contactar a direcção do MPLA para discutir essa situação afim de que tais situações não voltem a acontecer em parte alguma do território nacional.
A FpD sabendo que não é o único caso do género não pode deixar de apontar a apatia do CNE que não tem uma posição activa de condenação de tais atitudes, associando a educação cívica dirigida fundamentalmente àqueles que estão identificados como responsáveis por esse tipo de violência.
Não é com violência que se vencem eleições.
A FpD
LIBERDADE, MODERNIDADE E CIDADANIA

terça-feira, 20 de maio de 2008

PRISÃO E SOLTURA DE MILITANTE DA FpD NO KN

INFORMAÇÃO de 19 de Maio de 2008

Durante a manhã de hoje, dia 19 de Maio, foram restituídos os documentos da FpD – Frente para a Democracia – ao representante do Partido na Província.

O oficial da DPIC, dr. David, afirmou terem preso o membro da FpD por este partido não ter autorização para proceder a subscrição da sua organização para se candidatar. A 14 semanas do pleito eleitoral, as autoridades impedem os partidos de recolherem as 15.000 assinaturas indispensáveis para concorrer as eleições, enquanto o Partido da situação faz campanha activa em todo o país para o acto eleitoral e desde o inicio do registo que tem de forma diplomaticamente compulsiva, incluindo argumentos falaciosos, e utilizando as estruturas do estado e de organismos privados ficado com o numero de registo e de grupo dos cidadãos e mesmo tirado fotocópias dos respectivos cartões de eleitores, sem que nenhuma Policia, força de segurança ou Direcção de Investigação o incomodasse.

Fica clara a intenção de obstrução as pretensões de candidatura da FpD, uma vez que nenhum partido carece de autorização de nenhuma entidade para fazer trabalho político. A FpD tem representação parlamentar e a sua direcção tem endereço e a sua liderança está identificada.

A FpD reafirma a sua intenção de levar às barras do Tribunal os autores dessa violação à Lei e à liberdade do nosso membro e aprofundar as exigências para clarificação pela Comissão Nacional Eleitoral dos procedimentos para candidaturas dos partidos.

Luanda, 19 de Maio de 2008

INFORMAÇÃO de 18 de Maio

O militante da FpD foi detido sem qualquer notificação. Durante o tempo em que esteve detido (das 7h da manha as 18h00 da noite) não lhe foi apresentado nenhum documento de culpa formada, nem sabe se houve a formalização desse acto por qualquer Procurador. Não lhe foi devidamente explicada a causa da sua detenção.

O facto é que foi colocado numa cela tipo casa de banho toda encharcada com xixi, criando sérios problemas ao seu estômago. Nenhuma refeição lhe foi provida.

Entre as várias questões que lhe foram colocadas pelas autoridades policiais realçamos a pergunta:
- Porque razão você não é do MPLA?

Ao ser solto foi-lhe solicitado que comparecesse no dia seguinte com o responsável do partido na Província afim de provar que o Partido está legalizado. Os documentos da FpD com mais de vinte assinaturas foram apreendidos.

18 de Maio de 2008


Para mais informação:
Representante FpD KN – Vasco Miguel - 925613576
Contacto do Governador do Kuanza Norte - 923318867
Contacto 2º Comandante Municipal do Kuanza Norte - 924028447
DPIC – Dr. David - 923878105
878105
(liguem para lhes perguntar que tipo de democracia é a deles)

domingo, 18 de maio de 2008

A IMPORTÂNCIA NACIONAL DO MPLA PERDER AS ELEIÇÕES

1.O que está em causa nestas eleições?
O alvo da luta política actual é transformar Angola num verdadeiro Estado de Direito Democrático. Estado, capaz de encarar e assumir todos os angolanos como membros duma mesma família e, por consequência, permitindo que cada um de nós usufrua os mesmos direitos, as mesmas oportunidades, ao mesmo tempo que nos exige os mesmos deveres. Lei igual para todos! Desde os direitos de natureza política em que as liberdade de pensamento, expressão, reunião e manifestação sejam realmente consentidos e praticados, até aos de natureza social como o direito a uma boa educação e, inquestionavelmente, os de natureza económica para que a liberdade da livre iniciativa seja para todos. No âmbito desses direitos ninguém pode (não é o limitado “deve”) ficar sem uma habitação digna, sem pão, sem emprego, sem água potável. A questão central para que um poder raciocine consequentemente nesses termos reside na sua capacidade de partilha que é, desde logo, defendida na Lei (o deve) e é aplicada com coerência (o pode). Reside igualmente na capacidade de abertura política, na viabilidade do espaço público, pois o processo que nos conduz a isto é a prática democrática, é percebermos que “toda a gente é pessoa” e, por consequência, tem voz e vez sempre que entender falar, agir e reagir. O partido da situação não tem claramente essa capacidade, é um partido cuja natureza de poder é para satisfazer um grupo minoritário, fabricar privilegiados e submeter os demais aos seus desígnios. É autoritário, não percebe (porque não pode) o sentido da liberdade dos outros e, isto, é uma clara questão de cultura política profundamente entranhada nos seus princípios práticos. Ultrapassar esta concepção pré-histórica de política que nos conduz a falta de visão para a resolução efectiva dos nossos problemas é uma questão candente da política actual. E este desafio é, pelo interesse nacional, colocado a todos os democratas pelo que o problema do Mpla passa a ser uma questão nacional e não uma mera questão desse partido.

2. O reinado do Mpla e a desestruturação.
Com um longo reinado o partido da situação cristalizou a sua vocação do poder exclusivo, pese embora as novas condições políticas. Descomprometeu-se com os ideais que motivaram a sua formação e impediu o surgimento do estado democrático de direito. A sua conduta levou a uma profunda desestruturação da sociedade, com ausência de regras e normas, onde o arbítrio e a ausência de valores constituem pilares actuantes. As ideias-força que hoje enfermam o comportamento comum dos cidadãos, por via da natureza ditatorial, desestruturante, do partido-estado, indicia uma profunda crise social, com nefastas repercurssões psicológicas no plano Individual. Em certo sentido o país desencontrou-se, as pessoas vivem contrariadas, fazem coisas que não gostariam de fazer, assistem a atitudes às quais fingem respeitar.

3. O problema da ideologia e o vício na sociedade.
Definitivamente, o critério da vida em Angola rege-se pelo peso do partido no poder. Via de regra o conceito de cidadão não é praticável. A bússula para que se tome uma atitude centra-se não em valores éticos ou morais, não no juízo do que é correcto ou incorrecto, mas se agrada ou desagrada o partido no poder. Os temores surgem por todos os lados porque a capacidade do partido dominante de “nos tirar o pão” ou simplesmente “nos pôr na lama” inventando processos judiciais ou intrigas é enorme. O contrário também é verdadeiro: a oportunidade de prosperidade individual ou a garantia de que nada acontece se se comete alguma atitude ilegal ou maléfica é de “nos encastelarmos” no partido da situação. Apesar de que esta forma de pensar e agir acaba por facilitar, em rigor, apenas um grupo minoritário, a expectativa de muita gente é que a sorte lhe bafeje. A ideologia dominante segundo a qual o cidadão só se concretiza com a militância no partido da situação ou submetendo-se a ele penetra em todos os sectores sociais, deixando de fora apenas os marginais (criados pelo sistema de exclusão do sistema) que não reconhecem qualquer paternidade ao regime no fluir do seu pensamento e acções. Com base nisso, está introduzido o vício na sociedade e nenhum sector de relação cidadã como a Administração Pública, a comunicação social estatal, a polícia, a segurança do estado, as empresas públicas, etc, resiste. O combate ao vício e o estabelecimento duma verdadeira relação de cidadania é uma das questões chave do novo ciclo político e só haverá condições de o fazer se o partido governante perder a paternidade política da sociedade.

4. A necessidade do Mpla recuperar o espírito político.
O sentido duma vitória política. Uma vitória política do partido da situação vai ao certo aprofundar esta desestruturação social, vai estimular ainda mais este vício de comportamento e a sociedade vai aprofundar a confusão em que está instalada. Angola é hoje, por via disso, a confluência entre Brazil, Zimbabwe e Nigéria. É um compósito dos elementos negativos desses países, no tocante, respectivamente, a grave disparidade de rendimentos sociais, ao modelo político ditatorial e a capacidade de desorganização social. O núcleo realmente dirigente do partido da situação que no interior do próprio partido “aterroriza” os seus confrades terá a vitória como meio de aprofundar ainda mais o seu reinado. É o mundo das negociatas que vai continuar com algumas migalhas repartidas aqui e acolá, mas este império económico exige necessariamente a utilização de métodos e processos autoritários e golpistas. Aqueles que no interior desse partido anseiam a restauração do espírito político, ao regresso a referências de equilibro social serão ou trucidados ou terão que fingir que as coisas vão bem. A única forma de se libertarem dessas amarras e colocarem-se ao nível dos seus anseios é através dum facto contundente e este só pode ser a perda do poder do seu próprio partido. Lembro aqui um dos ex-embaixadores caboverdeanos que me confidenciou que a longa permanência do PAICV no poder criou vícios de tal forma permitindo que o partido caísse em práticas de injustiças infantis, que só se apercebeu após a sua saída do poder. Se tal não ocorre agora no partido da situação, este corre o risco de ver essa natureza de poder (que cega) reforçada por uma nova geração que ascende neste partido de forma monástica, cuja única política é o interesse pessoal baseado na mera gestão da “sua” riqueza. Os militantes com projecto político mais rapidamente serão dispensados, quais descartáveis, como habitualmente ocorre entre as suas fileiras.

5. A conjuntura não pode permitir uma adaptação do status quo se outras forças venceram a eleições.
Só com a perda de poder maioritário na Assembleia Nacional e com a ascensão de forças democráticas é que a sociedade pode rapidamente caminhar rumo ao estado de direito. Nenhuma força política estará capaz de fazer aquilo que se passa hoje em Angola, de alimentar o vício estrutural ao ponto de desenvolvê-lo, embora a irradicação do vício envolva um combate consequente de médio, longo prazo. As pretensões totalitárias, as pretensões revanchistas e também as que ousarão apoiar-se no modelo social prevalecente, de cariz “elitista” como o OPSA o caracterizou, podem existir mas não terão pernas para fazer curso, até porque o sentido do voto é contra a natureza do partido-estado. Desde logo, todas as forças não integrantes do poder governamental terão, ao contrário de hoje, direitos de oposição, o que significa, por um lado, que as regras serão iguais para todos (desaparece o aspecto mafioso do poder de estado) e que o poder de fiscalização estará, particularmente, nas mãos da oposição. Decididamente a FpD opôr-se-á a qualquer tipo de tendência revanchista e de manutenção do satatus quo. Depois, a separação efectiva dos poderes trará uma lufada de ar fresco, permitindo maior confiança nos órgãos do estado e sobretudo naqueles que garantem a defesa dos interesses fundamentais dos cidadãos, como os do sistema de Justiça. Por outro lado, o novo poder que tem apenas 4 anos para mostrar a sua diferença, estará interessado em uma prestação que granjeie o apoio popular. Essa tendência será boa para o país. Assim, a par da emancipação política no interior do próprio partido dominante e da aspiração de boa prestação do novo poder, a sociedade de certa forma afecta ao partido da situação respirará um impressionante ar de liberdade e contribuirá decisivamente para a democratização do país. Novas forças serão libertas nesse processo e engrossarão indubitavelmente àquelas que lutam por um futuro de esperança.

6. A melhor oposição.
Para o país, na próxima conjuntura não restam dúvidas que a melhor oposição é o Mpla. É de facto o partido que melhor conhece os meandros do poder, os dossiers, tendo todas as condições de contribuir para a ruptura do actual satus quo, uma vez que já não lhe será benéfica a ideia do controlismo do poder político, a desorganização e o caos que se estabeleceu, bem como a falta de transparência, os negócios obscuros, a corrupção em grande escala. Se o novo poder pretender manter estes esquemas terá uma denúncia clara e interessada desta oposição que sabe bem como fez. Isto, sem dúvida, será bom para o país.

7. Uma nova relação de forças assim estabelecida permitirá ganhos nacionais importantes associado a um tremendo respeito internacional.
A) Assim, no domínio político o jogo democrático começa a ser possível praticar, a oposição passará a ter direitos, a separação de poderes tornar-se-á efectiva, os odores de liberdade romperão em todas as esquinas, a sociedade civil assumirá o seu papel autónomo. Os profissionais da comunicação social não terão motivos para se manterem como “comissários políticos”; B) No domínio económico não só haverá interesse em estabelecer um plano estratégico nacional – porque só nestas condições faz sentido um “pacto de estabilidade” que não exclua a sociedade civil - mas as forças que hoje dominam a economia e que são promíscuas (porque igualmente dominam o poder político) estariam mais livres e mais concentradas para se dedicarem exclusivamente a (sua) prosperidade económica e preservá-la. Acatariam as regras do estado de direito para não serem apanhadas em contra-mão pelo novo poder, estariam menos livres para a prática da corrupção, desbaratariam menos o erário público, teriam melhores condições de estabelecerem relações justas com os trabalhadores. Tudo isto é impossível esperar com a promiscuidade entre a política e a economia e a protecção que hoje existe para estes interesses privatizados, acobertados na estrutura e funcionamento do estado. A economia tenderia a uma auto-organização por força dum ambiente estruturalmente diferente, situação que hoje é impedida pela franca delapidação da riqueza social; B) No domínio social os reflexos são imediatos e positivos. As forças sociais, sustentadas por uma maior diversificação económica, aumentariam o seu grau de cidadania. A competição (empresarial) e o mérito (individual) elevar-se-iam a bitolas de avaliação que estimularia o desenvolvimento social, a estrutura de oportunidades melhoraria, arrastando consigo uma melhor repartição da riqueza nacional. A violência endémica, fruto conjugado dos órfãos da guerra e das profundas injustiças sociais, teria menos oportunidades para retirar a segurança aos cidadãos; C) Á nível Internacional o país sem um estado com relações sociais baseadas na corrupção aceitaria participar nos sistemas de integridade internacionais, libertando forças morais para criticar as estruturas financeiras internacionais injustas que hoje produzem a desgraça aos países do terceiro mundo. Um povo que se livra dum poder secular autoritário e gerador aberto de injustiças, por outro lado, ganha respeitabilidade do exterior, que o vê de facto emancipado, estimulando-o a manter relações numa base de maior equidade o que romperia, desde logo, com a degradação das relações laborais da mão obra nacional em empresas estrangeiras. Com níveis mais elevados de justiça, por sua vez, minimizar-se-iam os riscos de xenofobia.

8.O fim do M.P.L.A.
– Só dessa forma, os cidadãos poderão emancipar-se do Medo Para Lutar por Angola, condição necessária para que o país seja capaz de enfrentar um desenvolvimento sustentável e multilateral. Haja coragem!

Filomeno Vieira Lopes (Presidente da FpD – Frente para a Democracia)

MILITANTE DA FpD PRESO NO KWANZA-NORTE

Luanda - A Frente para Democracia (FpD) exige a libertação do seu militante António André Lourenço preso na manha de Sábado (17/05) no Bairro Kipapa, em Ndalatando, Kuanza Norte, quando em missão de serviço, sensibilizava os cidadãos para subscreverem a candidatura daquele partido para o futuro Parlamento.

Ao que apurou o responsável da FpD na área, Sr Vasco Zacarias Miguel (Lulu) pende sobre o mesmo a acusação de "recolha de cartão de eleitor".

Fonte partidária garantiu que "O Presidente da FpD falou as 14h30 de hoje, dia 17 de Maio de 2008, com Sua Excelência o Senhor Governador da província do Kuanza Norte e as 16h30 recebeu a informação que tinha enviado um oficial da DPIC (Direcção Provincial de Investigação Criminal) para inteirar-se do caso." Disse acrescentado que "Até àquela altura o companheiro Lourenço jazia na prisão sem que a Polícia tivesse elaborado o respectivo auto com as causas da prisão."

Segundo a fonte "Tratando-se duma prisão arbitrária sem fundamento na Lei reforçada com a atitude da Polícia de o deixar detido durante pelo menos 9h30m sem culpa formada , a FpD exige a libertação imediata e incondicional do seu membro e denuncia que tais acções visam criar um clima de intimidação para que os cidadãos não entreguem a documentação requerida para candidatura dos partidos políticos e para que os militantes deixem de cumprir a sua missão de construtores da democracia."

A FpD esclarece que somente os eleitores como reza o artigo 62º podem suportar as listas e, portanto, é necessário fazer prova da condição de eleitor do proponente.

Igualmente em Cabinda, membros do SINFO, intimidam os militantes que abordam os cidadãos, afirmando que as assinaturas restringem-se aos membros do partidos políticos, segundo denuncias obtidas por fontes partidárias afectas a FpD.

"Essa conduta da Polícia e da SINFO tem inspiração partidária e é contrária ao desenvolvimento harmonioso do processo eleitoral e permite-nos exigir do Conselho nacional Eleitoral:

Que explique inequivocamente como devem os partidos constituir os seus processos para se candidatarem;
Que repudie estas grosseiras interferências nos trabalhos dos partidos políticos de forças dos serviços de segurança nacional." disse

Artº 62º, nº 2 da Lei Eleitoral – "Os Partidos Políticos ou Coligações de partidos devem obrigatoriamente concorrer em todos os círculos eleitorais, devendo as listas ser suportadas para o círculo nacional por 5.000 a 5.500 eleitores e para os círculos provinciais por 500 a 550 eleitores"

terça-feira, 6 de maio de 2008

A PREDAÇÃO CONTINUA

"Empresário congolês tem assento num dos maiores accionistas da Galp Energia,
marido de Isabel dos Santos na administração da Amorim Energia"
Luís Villalobos (in jornal Público, 28/04/2008)

Sindika Dokolo, de 35 anos, e casado com Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, é um dos nove membros do conselho de administração da Amorim Energia, 'holding' sedeada na Holanda e que controla um terço do capital da petrolífera Galp Energia. Nascido na República Democrática do Congo e filho de um dos milionários deste país, Sindika Dokolo ocupa o cargo na Amorim Energia ao lado de representantes de grandes accionistas, como a angolana Sonangol, Caixa Galicia e o próprio Américo Amorim.
Contactado pelo PÚBLICO, no sentido de saber se a presença de Sindika Dokolo reflecte, ou não, uma participação accionista sua ou de Isabel dos Santos (sócia de Américo Amorim em outros negócios), o departamento de comunicação do empresário confirmou apenas que este é administrador da Amorim Energia desde o início do investimento', no ano de 2006.
Além de Américo Amorim, e de Sindika Dokolo, têm assento no conselho de administração da Amorim Energia nomes como o de Mateus de Brito, vice-presidente da petrolífera estatal angolana Sonangol, José Alvarez Sanchez, responsável legal da Caixa Galicia, José Neto, presidente da Investimentos Ibéricos, e Carlos Gomes da Silva, actual administrador não executivo da Galp (e ex-responsável da Unicer), indicado pelo empresário nortenho. Todos estes nomes reflectem os interesses económicos e financeiros ligados à holding Amorim Energia através de várias empresas (ver infografia nestas páginas).
Entre as sociedades envolvidas, a que tem menor participação é a Oil Investments, com cinco por cento, detida, segundo o departamento de comunicação do empresário nortenho, a 100 por cento pelo grupo Américo Amorim. A Oil Investments, sedeada também na Holanda, tem uma ligação em pequena escala com a Galp Energia, ao contrário do que sucede com a Sonangol. Esta, por via indirecta, detém cerca de 15 por cento da petrolífera portuguesa (onde o Estado ainda controla oito por cento do capital). Outro accionista de relevo, como é o caso da Caixa Galicia, não passa dos 4,5 por cento.
A nomeação de Sindika Dokolo para o conselho de administração da Amorim Energia ocorreu em Abril de 2006, ano em que se intensificaram os negócios entre Américo Amorim e Isabel dos Santos. No final desse ano, os dois entraram no capital da Nova Cimangola, através da empresa Ciminvest e em substituição da Cimpor, que saiu deste mercado em ruptura com as autoridades locais. No capital da cimenteira angolana está, além do Estado, o Banco Africano de Investimentos (BAI), onde a Sonangol é accionista de referência. O presidente da petrolífera estatal angolana, Manuel Vicente, além de administrador não executivo da Galp Energia (ver texto ao lado), é também um dos gestores ligados à Unitel, empresa de telecomunicações angolana onde a PT tem uma participação, tal como Isabel dos Santos.
Estes negócios acabam por beneficiar também o empresário Sindika Dokolo, com quem Isabel dos Santos se casou há cerca de cinco anos. Conhecido pela sua colecção de arte africana contemporânea, herdou os negócios do pai, Sanu Dokolo, fundador do Banco de Kinshasa, e que esteve no centro de um alegado desfalque nos anos 1980. Encontrando-se a residir em Luanda, Sindika Dokolo, além de investimentos no Congo, tem vários negócios neste país, como a Amigotel, empresa retalhista de telecomunicações com relações comerciais com a Unitel.
Mais conhecida publicamente é a relação de parceria entre a filha do presidente angolano Isabel dos Santos e o empresário português Américo Amorim no sector da banca. Ambos têm 25 por cento do Banco Internacional de Crédito (BIC), estando o restante nas mãos de vários accionistas, como Fernando Teles (presidente, com 20 por cento), José Vaz (dez por cento), Luís Santos (cinco por cento), Manuel Fernandes (cinco por cento) e Sebastião Lavrador, ex-governador do Banco Nacional de Angola (cinco por cento).
A instituição financeira, criada em 2005, tornou-se rapidamente na segunda maior empresa deste sector em Angola (após o Banco Fomento de Angola, do português BPI). Em Maio do ano passado tinha já 67 balcões comerciais. No próximo mês, o Banco Internacional de Crédito deverá iniciar formalmente as suas operações em Portugal, onde é representado pelo ex-ministro Luís Mira Amaral, com a estratégia de captar os fluxos financeiros entre os dois países.
Na assembleia geral do próximo dia 6 de Maio haverá várias diferenças face ao encontro de accionistas ocorrido no ano passado, a primeira vez que a Galp Energia se reuniu nestes termos enquanto sociedade aberta. A Caixa Galicia já vendeu, na totalidade, os três por cento que detinha directamente na petrolífera. Segundo confirmou ao PÚBLICO fonte oficial desta instituição, a alienação ocorreu entre Outubro e Novembro de 2007. A venda terá significado uma mais-valia significativa, já que nesse ano os títulos da empresa subiram cerca de 165 por cento. A Caixa Galicia mantém, no entanto, os 4,5 por cento detidos de forma indirecta através da Investimentos Ibéricos.
De resto, também a Iberdrola e o BPI venderam as suas posições. A primeira, liderada em Portugal por Joaquim Pina Moura, alienou no final de Janeiro de 2007, a investidores institucionais e fora do mercado, os 3,8 por cento que detinha. A renúncia ao cargo de membro do conselho de administração ocorreu apenas em Março deste ano. No caso do BPI, a instituição financeira desceu a participação directa para menos de dois por cento no início deste ano, tendo depois vendido a totalidade das acções.
Quem permanece imutável são os dois grandes blocos accionistas, Amorim Energia e os italianos da ENI, ambos com 33,34 por cento. O Estado tenta ser o ponto de equilíbrio através dos sete por cento da Parpública e do um por cento, com direitos especiais, da Caixa Geral de Depósitos. Assim, cerca de 25 por cento das acções da Galp Energia estão em free float no mercado de capitais. Segundo o relatório e contas de 2007, a maioria parte das instituições e particulares que investiram na petrolífera estão localizados em Portugal (31 por cento), seguindo-se França, Reino Unido, Espanha e EUA.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

BOBOS E PERIGOSOS, PERSISTEM NA DITADURA

“Perdão não se cobra, perdoa-se só mesmo e nada mais! Dignidade não se gaba, dignidade com vaidade é falsidade, dignidade não é esmola que se dá como uma moeda ao coitado, assim é soberba revelando falsa humildade, mas já sabemos como são, são os maiores em tudo.”
artigo de Laguara Luís (activista cívico)

Depois do político “mau”, na pessoa de Kundi Payama, que no dia 4 de Abril, mais uma vez, fez um discurso guerreiro com que pretendia conclamar à guerra de extermínio, [“à caçada”], surge agora, o político “bom” que procura “falar” à consciência dos angolanos perorando sobre as “virtudes” do sistema e das “glórias” do governo. Aí João Lourenço desenvolve duas ideias: uma perigosa e antinacionalista e outra lamurias face a potencias mundiais que antes prometeram mas agora não estão a ajudar e deixam a tarefa da reconstruir o país apenas para os angolanos. A primeira é a de que o partido da situação é magnânimo porque perdoou. A segunda é o abandono de Angola pelo ocidente quando, por exemplo, ainda há pouco tempo receberam milhões de euros da Alemanha, as empresas portuguesas estão em todos os nichos do mercado e mesmo quando, atropelando a norma ACP-UE que consagra os direitos humanos como principio essencial das suas parcerias, até têm tido o silêncio cúmplice da União Europeia por omissão no referente às violações dos direitos humanos impunes cometidas pelo Governo angolano e quando são empresas ocidentais quem repôs a banca a funcionar, etc. Essa lamuria boba, objectivamente anti-ocidental de fachada, é ao mesmo tempo efeito e causa duma atitude que, entre outros visados, se vem abatendo contra a nossa juventude que vive no ocidente e que livremente se tem pronunciado, sem quaisquer inibições, exprimindo a percepção que tem da nossa realidade na internet onde podem dizer o que pensam porque isso no JA, na TPA e na RNA é ainda do domínio do impossível.

Falando de perdão como fez João Loureço no Huambo ocorre-me, ao correr da pena, dizer que perdão sincero não se ostenta. Perdão não se cobra, perdoa-se só mesmo e nada mais! Dignidade não se gaba, dignidade com vaidade é falsidade, dignidade não é esmola que se dá como uma moeda ao coitado, assim é soberba revelando falsa humildade, mas já sabemos como são, são os maiores em tudo, não é assim? O perdão entre beligerantes só é quando vem dos dois lados que se combatem, houve perdão concedido pelos dois lados, pois caso contrário, guerrilha é guerrilha, o Norte onde o Apolo estava não é o Leste onde Savimbi morreu, no norte mesmo com poucos recursos uma guerrilha sobrevive sempre e inviabiliza tudo, o próprio partido da situação devia saber isso, quanto mais não seja pelo poder do simbólico que continua (indevidamente) a fruir. As duas partes, ainda que com a nítida vantagem duma delas, fizeram concessões e pararam a guerra, esta é a verdade, agora se se perdoaram naquela ocasião e ou mesmo se já se perdoaram absolutamente, assim tratado como quem diz eu perdoei-te e agora cobro a factura ao povo, alimenta a dúvida. Aprendam com o exemplo de Gandi, Mandela, esses sim perdoaram, no vosso meio não vejo ninguém assim, nem o vosso chefe José Eduardo dos Santos conseguiu alcançar essa dimensão. Poderá lá chegar, se quiser mudar 180º o rumo da sua orientação... esperemos para ver e só depois decidirmos sobre o mérito que conquistarem, prudência aconselha-se pois até agora ninguém se redimiu assumindo a sua culpa. O que fazem sempre é porem a culpa no outro, a culpa de tudo, esquecendo-se das suas culpas que não são poucas nem menos graves que a do outro. Por favor, sejam humildes, peçam perdão à Nação por tudo o que fizeram desde a captura do Estado em 1975, peçam perdão pela matança do 27 de Maio e por todas as outras, pela tortura, detenções. assassinatos políticos, aproveitamentos da coisa pública, uso de vantagens da posse do poder para enriquecimento de particulares, peçam perdão pela incompetência, pela impunidade que vêm garantindo a violadores dos Direitos Humanos, peçam perdão pelos esbulhos de Terra (mais grave do que no tempo colonial), pela demissão de tantas obrigações de gestores públicos, peçam perdão pela ostentação da força e o uso da violência combinado com a propaganda e o culto da personalidade para ao mesmo tempo inculcarem o medo na sociedade aterrorizando-a e sentarem no lugar de “Deus” (isto é, o vosso chefe endeusando-o). Peçam perdão pelos meninos que continuam a morrer antes dos cinco anos de idade, peçam perdão pelas zungueiras baleadas nas ruas da cidade e pelas praças partidas para meterem no sítio delas bancos e outros investimentos próprios. A lista é imensa, poderei um dia detalhadamente descreve-la junto com outros até á exaustão, e tanto o partido da situação, como o “maior partido da oposição”, quanto o outro movimento de libertação esquecido, mais todos os que vos apoiaram nas vossas acções de desmando e violência contra a Nação angolana, terão então que pedir perdão mostrando prontidão para assumirem as responsabilidades respectivas por cada um dos vossos actos. Quem do alto perdoa o outro e tem tantas culpas como ele e não se apresenta à justiça não perdoou nada nem ninguém nem se redimiu também. Isto vai ter que ser tratado algum dia e só depois haverá um perdão sério, convicto e reconciliador e não são vocês quem tem que perdoar, é o Povo que tem que vos perdoar, isto sim, façam por merecer o nosso perdão.

Quanto a andarem volta e meia a acusar os jovens de estar influenciados pelo ocidente, são como alguém que roubou o fungi na cozinha e acusa os outros disso com a boca cheia de déndé e todos a vermos. Apresentam-se como anti-ocidente? Só dá para rir! Então, não é nos bancos ocidentais onde está o dinheiro dos mwatas? Não é no ocidente que empresas estatais estão a adquirir cotas do capital social de empresas? Não é no ocidente que os kamininos de hoje estão a criar os próprios bancos? Onde é que estão os apartamentos e palacetes da elite patrimonialista e clientelar do sistema? Digam lá se é na Rússia, na China ou em Cuba? Mostrem ainda os diplomas dos filhos do Chefe Máximo para ver a que ponto cardeal pertencem. Malucos não são, já deu para ver. O Pierre Falconi a quem foi dada a nacionalidade angolana e investido no cargo de Embaixador junto da UNESCO para lhe safarem da kionga é donde? Franco-brasileiro, não é ocidental? Parece que estamos mal mesmo com detentores do poder e seus defensores que já nem a geografia que se aprende na escola primária conseguem lembrar com honestidade, nem sabem a Rosa do Ventos, Norte-Sul, Leste-Oeste, que se aprendia na 2ª kabunga. Camaradas, camaradas, assim também não, é demais, O Ocidente é o ponto cardeal do pecado dos outros, mas foi lá onde tantos se acolheram e que se ainda estão vivos foi porque encontraram aí ajuda. Fugiram da fome, da guerra e do atraso, esse sopro de morte que nos chegou do Leste já carregado de campos de concentração, esqueceram isto tudo?
É pouco o que apontei aqui? Mas quem, além de tudo isto, já fez manobras militares com as tropas dos Estados Unidos da América no Ambriz? Lembram-se, os EUA são o chefe máximo do Ocidente ou já não é ocidental? Mas quem é que concedeu à Chevron mais décadas de exploração do petróleo de Cabinda sem perguntar sequer à Assembleia Nacional? E continuam sempre com essa história do Ocidente como crime só dos outros, porque são contra, fazendo-se passar pelo mais puro e imaculado anti-ocidentalismo depois de se ter bandeado com armas e bagagens para o Ocidente quando acabou o namoro entre ditaduras com um Leste geopolítico que foi uma desgraça de gulags, polícias políticas tenebrosas, desastre económico e pobreza, onde imperou gente como Ceaucescu, Staline, Brejnev e outros que até a memória de quem viveu sob o seu jugo ainda treme quando se lembra deles. Ainda têm a lata de vir com essa pedrada quando têm os bolsos cheios de dólares, puramente OCIDENTAIS? Parem com isto, é hipocrisia e cinismo a mais, desnecessário. Ou é porque agora têm a China como guarda-costas? A China no tempo da URSS, lembram, era inimiga da URSS e dos que alinhavam no seu campo, como Angola, esqueceram? Memória muito curta, ou seja muito selectiva, convenientíssima! Claro que o Ocidente não é um anjo, sabemos todos, mas usar isso para entupir as percepções do jovens acusando-os só porque vêm claramente as coisas como elas estão no nosso país é que não dá, só estão a demonstrar incapacidade de coabitar politicamente com quem usa sem inibições as sua liberdade e direitos fundamentais, mas o que esperar de falsos democratas?