sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A "RENÚNCIA IMPOSSÍVEL" DO DITADOR

O anúncio de Fidel de Castro, segundo o qual ele deixa os cargos públicos que desempenhava em Cuba, tem sido largamente noticiado pelos media de todo o mundo. Fala-se em “renúncia” ao poder. Nada poderia ser mais enganoso do que pensar que Fidel de Castro “renunciou voluntariamente” ao poder. O ditador sai dos cargos públicos mas não deixa o poder.

Nenhum acto de “renúncia” é ao mesmo tempo um acto constitutivo. E, o que Fidel fez, foi sobretudo, nomear o seu irmão para o substituir nos cargos públicos que exercia, impedindo até que a máquina ditadorial do partido-Estado cubano opera-se a sucessão, segundo as suas próprias regras. Nada de regras: o que conta é a palavra do Chefe que determinou quem agora passa a exercer esses cargos (o seu irmão, como Kim il Sung empossou o seu filho).

A dita renúncia de Fidel de Castro é mais uma subversão da ordem cubana revolucionária a favor do seu poder pessoal. Sempre foi assim: o que está no centro do interesse do ditador é o seu poder pessoal. A sua “renúncia” é apenas mais um acto do “golpe de Estado continuado” que sempre impôs pela força a vontade pessoal do ditador à ordem formalmente instituída.

Não há pois uma “renúncia voluntariamente” do poder. Ele “renuncia” apenas aos cargos públicos empurrado pelo bafo da morte. O próprio ditador reconheceu isso – em carta que publicou terça-feira, no site do jornal Gramma - quando dizia que o seu desejo sempre foi cumprir as suas tarefas "até ao seu último suspiro". “No entanto, seria uma traição à minha consciência assumir uma responsabilidade que exige mobilidade e dedicação que não estou em condições físicas de cumprir".

Ou seja, deixa os cargos públicos (como no passado deixou de fumar) mas não o de Secretário-geral do Partido Comunista Cubano (a quem compete dirigir o Estado e a sociedade) para ver se logra contrariar a lei natural da morte, na certeza de que só sairá do Palácio para o Cemitério.

Sem comentários:

Enviar um comentário